No mundo das startups, o entusiasmo pode ser contagiante. Apresentações inspiradoras, fundadores carismáticos e promessas de “revolucionar o mercado” atraem olhares, cliques e, muitas vezes, milhões em investimentos. Mas, por trás do brilho, há uma verdade incômoda: nem tudo que reluz é ouro. O hype, muitas vezes impulsionado pelo FOMO (medo de ficar de fora), pode inflar valuations e criar bolhas que estouram quando o mercado pede resultados reais.

Casos recentes, como o da Psyche Aerospace, ilustram bem esse fenômeno. Startups que captam fortunas antes de provar seu valor no mundo real levantam uma questão: o que realmente faz uma startup prosperar? E, mais importante, como identificar quando o hype está falando mais alto que a execução? Vamos mergulhar no que sustenta uma startup de verdade e nos sinais de alerta que todo empreendedor e investidor deveriam observar.

O que faz uma startup dar certo (além do hype)

Para ir além da narrativa e construir algo sólido, uma startup precisa de fundamentos concretos. Aqui estão os pilares que separam as empresas promissoras das que só existem no PowerPoint:

1. Resolver um problema real (e que valha a pena)

Todo negócio de sucesso começa com uma dor que o mercado sente – e está disposto a pagar para resolver. Parece óbvio, mas muitas startups caem na armadilha de criar “soluções em busca de problemas”. Antes de sonhar com unicórnios, pergunte: “Quem precisa disso? Quanto estão dispostos a pagar?”.

Exemplo: A Nubank nasceu para resolver a dor de taxas abusivas e burocracia dos bancos tradicionais. Antes de ser um unicórnio, ela validou a demanda com um cartão de crédito simples e sem anuidade.

2. Um MVP testado com clientes reais

Um Minimum Viable Product (MVP) não é só um protótipo bonitinho. É a menor versão do seu produto que entrega valor e gera aprendizado. Sem testes com clientes reais, você não tem um produto – tem uma hipótese. E hipóteses sem validação são apenas apostas.

Dica prática: Comece pequeno. Um aplicativo de delivery não precisa de inteligência artificial no dia 1. Teste com 10 restaurantes locais e veja se os clientes voltam.

3. Fundadores com experiência ou visão prática

Não é sobre ter cabelos grisalhos ou um MBA. É sobre conhecer o mercado ou ter a humildade de aprender rápido. Fundadores com vivência no setor sabem onde estão os atalhos e evitam erros previsíveis.

Exemplo: Os fundadores da Rappi conheciam o mercado latino-americano de logística e delivery, o que os ajudou a adaptar o modelo às particularidades locais.

4. Disciplina com o dinheiro

Startups não têm o luxo de gastar como empresas consolidadas. Cada real investido deve gerar tração ou aprendizado. Gastos descontrolados – como escritórios de luxo ou campanhas de marketing antes do product-market fit – são o caminho para o fracasso.

Dica prática: Use ferramentas como o Lean Canvas para priorizar gastos que aproximem você do cliente, não do ego.

5. Validação contínua com o mercado

Parcerias estratégicas, clientes-piloto e feedbacks reais valem mais que qualquer pitch bem ensaiado. O mercado é o juiz final. Se ele não está comprando ou recomendando, algo está errado.

Exemplo: A Airbnb testou sua ideia alugando colchões infláveis na casa dos fundadores antes de virar uma plataforma global.

Sinais de alerta: quando o FOMO fala mais alto

O FOMO pode cegar investidores e até fundadores, levando a decisões baseadas em emoção, não em fatos. Aqui estão os sinais de que o hype está dominando:



1. O pitch é melhor que o produto

Se o slide emociona mais que o protótipo, cuidado. Um bom storytelling é importante, mas não substitui um produto que entrega valor. Startups que brilham em eventos, mas não têm tração, estão vendendo fumaça.

Exemplo de alerta: Empresas que prometem “IA revolucionária” sem mostrar um caso de uso funcionando.

2. Captação precoce e exagerada

Levantar milhões sem um MVP validado é como construir uma mansão sem alicerces. Rodadas gordas em estágios iniciais muitas vezes refletem entusiasmo irracional, não fundamentos sólidos.

Caso real: A Theranos captou bilhões com promessas de tecnologia revolucionária, mas sem validação técnica robusta. O resultado? Um colapso épico.

3. Mais evento que entrega

Startups que aparecem em todas as conferências, mas não têm clientes reais, estão mais focadas em imagem do que em execução. Visibilidade é importante, mas só se vier acompanhada de resultados.

4. Promessas grandiosas sem base

Vamos reinventar o agro!” ou “Seremos o próximo SpaceX!” soam bem, mas, sem um cliente validando ou um protótipo funcionando, são apenas palavras. Desconfie de narrativas que parecem grandes demais para o estágio atual.

5. Carisma sem escuta

Fundadores carismáticos são ótimos para atrair atenção, mas, se não ouvem o mercado ou ajustam o produto, estão fadados ao erro. A humildade de pivotar é tão importante quanto a visão inicial.

A Reflexão Final

Inovação de verdade não vive de holofotes – vive de entrega. Startups sólidas nascem de problemas reais, produtos testados, times com experiência e um uso disciplinado do capital. O hype pode abrir portas, mas só a execução as mantém abertas. Da próxima vez que ouvir uma promessa de “mudar o mundo”, pergunte: “Onde está o cliente? Onde está o teste?”. Porque, no fim, narrativa sem lastro sempre cobra seu preço.

E você, já viu o hype ofuscar a realidade em alguma startup? Compartilhe nos comentários!