O cenário da inovação no Brasil acaba de ganhar um novo e vibrante protagonista: o Nordeste. Pela primeira vez na história, a região ultrapassou o Sul em número de startups, consolidando-se como o segundo maior polo do país, ficando atrás apenas do Sudeste. Essa transformação notável, revelada pelo Sebrae Startups Report 2024, sinaliza uma emocionante descentralização do ecossistema inovador brasileiro, impulsionada pelo crescimento fora do tradicional eixo Rio-São Paulo.

O levantamento do Observatório Sebrae Startups mapeou um total de 18.056 startups ativas em todo o Brasil. Enquanto o Sudeste ainda concentra a maior fatia, com 36,15%, o Nordeste agora detém expressivos 23,53%, superando o Sul, que registrou 21,06%.

"O Brasil vive uma descentralização da inovação, com novos polos surgindo fora dos grandes centros", celebra Décio Lima, presidente do Sebrae.


Essa ascensão não é fruto do acaso. Desde 2022, o Sebrae tem investido em programas estratégicos como o StartupNE e o Inova Biomas, direcionados ao fortalecimento dos ecossistemas de inovação locais. Além disso, eventos como o NordesteOn têm ganhado destaque, promovendo uma maior conexão entre empreendedores, investidores e o governo. "Apostar na inovação regional é garantir que as soluções venham das próprias necessidades locais", enfatiza Lima.

É importante ressaltar que o Nordeste já possuía importantes centros de tecnologia que pavimentaram o caminho para esse crescimento. Um dos pioneiros foi o Porto Digital, no Recife. Criado em 2000, o parque tecnológico inovou ao combinar desenvolvimento econômico, revitalização urbana e a preservação do patrimônio histórico. Hoje, o Porto Digital é reconhecido como um dos maiores distritos de inovação da América Latina, servindo de modelo para como políticas públicas regionais podem impulsionar novos ecossistemas de startups.

O futuro da inovação no Nordeste se mostra ainda mais promissor. O Neon 2025, evento que acontecerá no primeiro semestre do próximo ano, será uma vitrine para as melhores práticas e para a consolidação de hubs regionais como Recife, Fortaleza e Natal – cidades que já figuram entre as dez com o maior número de startups no país.

A Explosão da Inovação Longe dos Holofotes Tradicionais

O avanço do Nordeste é parte de uma transformação que abrange todo o território nacional. O Centro-Oeste, por exemplo, apresentou um crescimento impressionante de 189% no número de startups em apenas um ano, e a região Norte dobrou sua representatividade. A tendência é que novos polos regionais continuem a ganhar força, impulsionados por incentivos locais, redes de apoio e a necessidade de soluções que atendam a realidades específicas.

No Nordeste, essa expansão é liderada por setores como Tecnologia da Informação, Saúde e Bem-Estar e Educação – os três segmentos que concentram 33% das startups da região.

Embora Florianópolis e São Paulo ainda liderem em volume absoluto, Recife e Fortaleza já se estabeleceram como centros estratégicos de inovação.

"Estamos vendo uma transformação cultural nas capitais nordestinas, com mais acesso a capacitação e incentivo para startups voltadas a resolver desafios reais das comunidades locais", observa Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae Nacional.


Inclusão e Diversidade: Mais Mulheres na Liderança

O Sebrae Startups Report 2024 também trouxe à luz uma mudança significativa no perfil dos fundadores de startups. A participação feminina entre os sócios deu um salto notável, passando de 8,65% em 2023 para expressivos 30,18% em 2024. Esse crescimento é creditado a políticas de inclusão vinculadas a programas de capacitação e redes de mentoria.

Além do aumento da diversidade de gênero, o estudo aponta para uma diversificação nos modelos de negócios. Embora o B2B (Business-to-Business) continue dominante, com 50,9%, o B2B2C (Business-to-Business-to-Consumer) e o B2C (Business-to-Consumer) também ganharam relevância, refletindo uma maior aproximação das startups com o consumidor final.

Desafios para um Crescimento Sustentável
Apesar do notável aumento no número de startups, a maioria ainda se encontra em estágios iniciais de desenvolvimento: 22% estão na fase de ideação e 33% em validação. Apenas 3,72% alcançaram o estágio de escala. A falta de investimentos, a baixa experiência em gestão e a dificuldade de expandir para outros mercados ainda representam obstáculos para a consolidação desses novos polos.

Outro ponto crítico é o faturamento. Mais da metade das startups mapeadas (52%) ainda não geram receita, e apenas 1,53% faturam acima de R$ 4,8 milhões por ano. A maioria opera com equipes enxutas – 80% com até três pessoas.


"A inovação é o motor econômico do país, mas o desafio é garantir que ela seja acessível para todos os brasileiros, independentemente da sua região ou origem", afirma Quick. Segundo ele, a missão do Sebrae é atuar como um "escudo de proteção" para que os pequenos negócios possam competir em um mercado dominado por gigantes da tecnologia.

A ascensão do Nordeste como um polo de inovação é um marco importante para o Brasil, demonstrando o potencial criativo e empreendedor que pulsa em todas as regiões do país. Superar os desafios de crescimento e consolidação será crucial para garantir que essa nova onda de inovação traga benefícios para toda a sociedade.